quarta-feira, 7 de julho de 2010

Um Ato Inesperado


Sempre gostei de você. Sempre te vi de eu jeito mais que especial, mas acho que os seus olhos não me enxergavam da mesma forma. Tentei, sempre te respeitando, ficar mais próxima, mas talvez, com isso, eu só conseguisse ficar cada vez mais distante de ti.

Uma vez aconteceu um episodia ruim em sua vida, me lembro como se fosse agora. Fui até sua casa tentar um consolo amigo, pois era isso que você parecia querer, apenas minha amizade. Você estava sozinho, triste, com muitas coisas na cabeça e ao mesmo tempo com nada. Um abraço profundo fez você respirar, acho que pela primeira vez depois do ocorrido. Foi assim, começou com um abraço, depois com carinhos, beijos e fui deixando acontecer, deixei porque te amava.

Um mês se passou e aquele dia foi apagado de nossas memórias. Foi como se nada passasse de um sonho meu, de um sonho nosso. Não contei a ninguém, nem a minha melhor amiga. Eu queria guardar tudo só para mim. Você continuou falando comigo, éramos apenas amigos, como sempre.

Minha mudança começou com enjôos, tonturas, mudanças no corpo. É, já sabem onde quero chegar com isso. Eu estava grávida, sem saber. Quando suspeitei fui à farmácia mais próxima e comprei um teste. O fiz lá mesmo. O resultado me fez chorar. A única coisa que pensei em fazer foi ligar para ele, contar tudo, éramos amigos acima de tudo, por mais que fosse complicado, estaríamos juntos nessa, foi um erro de ambos.

Ele atendeu com uma voz cansada, mas quando percebeu meu choro desesperado perguntou o que estava acontecendo. Eu apenas disse que precisava falar com ele pessoalmente. Sem perguntar mais nada ele desligou e disse que chegaria rápido, marcamos um lugar tranquilo para o encontro, um parque.

Comprei mais um teste e o fiz, esperando que o resultado mudasse, mas não mudou. Fui até o local combinado. Ele me aguardava ansioso. Estava sentado em um muro pequeno, me sentei ao seu lado, ainda chorando, e comecei a procurar palavras para dizer o que acontecia. O que aconteceu ele sabia, mas não era mais hora de fingir que nada tinha acontecido, era hora de crescermos e ter muita responsabilidade, sem querer geramos uma vira sem culpa.

Logo que contei e mostrei o teste sua reação foi mais desesperada que a minha, ele abaixou sua cabeça e chorou, chorou como uma criança, chorou sem dizer nenhuma palavra. Apenas encostei minha cabeça em seu ombro e chorei junto. Não havia mais o que fazer a não ser encarar aquilo tudo.

Contar aos nossos pais foi como um quase suicídio, mas eles se conformaram com o tempo. Nós dois estávamos mais unidos do que nunca, era apenas amizade, mas ele não saiu do meu lado em nenhum instante. Ele ficou feliz comigo ao saber que o nosso bebê era uma menina. Ele ao meu lado quando começamos a comprar roupas e móveis, quando decoramos o quarto dela. E no dia em que iríamos olhar para o seu rostinho pela primeira vez, ele quis estar ao meu lado.

Enquanto estávamos no quarto, depois que levaram nossa filha até o berçário, ele parecia nervoso e querendo dizer alguma coisa. Foi quando ele se levantou virou para a porta e disse:

- Agora que tudo está bem, eu vou embora, já fiz a minha parte.

- Como? – Eu disse, sem entender onde ele desejava chegar.

- Fiquei ao seu lado no momento mais difícil, cuidei de você até o ultimo minuto. Você sabe que eu nunca gostei de você. Não sei o que passou pela minha cabeça aquele dia, me arrependerei até o ultimo dia da minha vida. Agora eu vou embora, mas não se preocupe, vou mandar o dinheiro necessario.

Então ele abriu a porta do quarto. Eu estava chorando e mal consegui dizer.

- Mas e a nossa filha?

- SUA filha! – Ele abriu a porta e saiu. Saiu de nossas vidas e nunca mais voltou.





O nosso erro me trouxe o maior amor do mundo. Pensei que nós três seriamos felizes para sempre, é uma pena que apenas duas seremos: eu e minha filha.


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O conto não é real.



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