sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Decifrando Seu Olhar


Ás vezes acordamos tão sem vontade que não queremos nem pensar em ir para a aula. Ás vezes, também, nem acordamos. Era sempre assim comigo, fui ficando dependente de faltar. E fui faltando cada vez mais. Pelo menos uma vez por semana.

Em poucos dias recebi um comunicado para repor umas cinco aulas. Eu teria que ficar até mais tarde na escola, teria que deixar de fazer coisas que eu gosto para ficar mais tempo ainda estudando. Eu não achava isso nada justo, mas ainda era melhor do que repetir o ano por causa de faltas.

A aula de reposição seria com a coordenadora do colégio. Cheguei e me sentei no fundo da sala, as primeiras carteiras só tinham os mais novos. Me impressionei quando vi quase o sexto ano inteiro lá. Fiquei esperando minhas atividades, pois quanto mais cedo acabasse, mais cedo ia para casa.

Foi quando um garoto entrou, um garoto que eu nunca tinha notado antes, nunca tinha visto ele no intervalo. Era estranho, pois minha escola tinha pouco mais que trezentos alunos e isso não é muito.

Ele se sentou ao fundo da sala também, não muito perto de mim. Acredito que ele nem tenha me reparado. Enquanto fazia meus deveres, parava para olhá-lo, só às vezes. Em uma dessas vezes nossos olhares discretos se encontraram, se perceberam e depois apenas mentiram um para o outro. Era como se fingíssemos não olhar um para o outro, buscando alguma coisa.

Terminei primeiro, mesmo enrolando por algum tempo tive que ir embora, pois ficaria muito na cara. Mal dormi aquela noite, pensei nele o tempo inteiro.

Aula, sono, barulho e cada vez mais lições e trabalhos. Minha vida estava ali, eu não saia mais, mal conversava com os amigos. Mas naquele dia eu estava mudada, estava esperando até o horário da reposição de aula, e eu esperava que ele fosse.

Como pensei. Ele estava lá! Quando entrei, ele parou o que estava fazendo para me olhar, só que dessa vez eu pequeno sorriso acompanhou seus olhos. Sorri de volta e fui me sentar. Trocamos vários olhares de novo, mas nenhuma palavra ousava sair. Às vezes riamos de alguma coisa que acontecia na sala.

Ele se levantou para ir embora, mas antes deixou um bilhete na minha mesa. Quando ele saiu da sala eu abri, estava escrito o seguinte:

Não quero esperar até amanhã...Quer ir tomar um sorvete depois da reposição? Estarei te esperando na saída.

Eu não imaginava que isso fosse acontecer tão rápido, essa aproximação. Não tínhamos trocado nenhuma palavra ainda, eu só sabia seu nome porque a coordenadora disse. Eu quis arriscar, eu quis parar de decifrar ele e começar a entender.





Talvez o que tentamos decifrar pode ser um erro, talvez o maior erro de nossas vidas, mas também pode ser o melhor.

______________________________________________________________





O conto não é Real.




Já tentou decifrar o olhar de alguém? Se deu bem ou mal por isso?

2 comentários:

  1. muito lindo meoo, sério,
    muito bom mesmo.
    adorei, como sempre! :D

    ResponderExcluir